quarta-feira, 27 de junho de 2012

São Paulo novamente sob ataque


Paula Miraglia

Antropóloga analisa segurança pública, justiça e cidadania



Presença e atuação do PCC são postas em xeque pelas autoridades que anunciam que o problema está resolvido. Mas não é bem assim


Na noite de ontem, mais três ônibus foram incendidos em São Paulo. Na noite anterior, nove pessoas foram mortas e dois ônibus queimados em pontos distintos da cidade. Os ataques aconteceram após o assassinato de sete policiais militares em São Paulo em menos de duas semanas. De acordo com os números da PM, desde o início do ano, 39 policiais foram mortos.

O diretor do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) define os episódios como uma retaliação por parte do crime organizado ao trabalho da polícia. Coincidência ou não, a violência contra policiais se intensificou depois que a Rota matou seis pessoas na zona leste da cidade.
Mas além de retaliação, essa parece ser uma estratégia de intimidação e difusão de medo semelhante à que vimos em maio de 2006, ocasião dos ataques protagonizados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Na época, diversas prisões paulistas foram palco de rebeliões simultâneas, policiais militares e civis, guardas municipais e agentes penitenciários foram assassinados, bases da polícia atacadas repetidamente na capital e no interior e quase 50 ônibus foram queimados ou depredados.
Os eventos se tornaram um marco na escalada da violência em São Paulo e foram explicados também como uma resposta à decisão do governo do Estado de isolar as lideranças da organização criminosa. São Paulo teve, naquele momento, provas da existência do PCC, de seu alcance e de suas relações com o poder público.
Desde então, a presença e atuação do PCC nos diversos bairros da capital e do interior vêm sendo postas em xeque pelas autoridades, que anunciaram mais de uma vez que o problema estava resolvido. O que estamos vendo, no entanto, é que não é bem assim.
A reação imediata aos episódios deve ser de solidariedade com os policiais mortos e suas famílias. Tamanha vulnerabilidade apenas sublinha a precariedade das condições de trabalho que caracterizam a profissão.
Mas isso não deve impedir uma reflexão crítica sobre a crise pela qual passa a segurança pública em São Paulo. Os ataques acompanham uma onda de arrastões na cidade e, pelo terceiro mês consecutivo, a capital paulista observou um aumento no número de homicídios dolosos: 21% em comparação ao mesmo mês no ano passado.
É certo que parte da crise deve ser creditada ao esgotamento do modelo de segurança no País, que carece de inovação, investimento e qualificação. Mas São Paulo, que vinha até então festejando a queda de homicídios como o indicador essencial do sucesso das suas políticas de segurança, parece passar por um acerto de contas com sua história recente.

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